A vida no exílio


“Ora, estes são os que vieram a Davi a Ziclague, estando ele ainda tolhido nos seus movimentos por causa de Saul... Estes são os que passaram o Jordão no mês primeiro, quando ele transbordava por todas as suas ribanceiras.” 1 Crônicas 12:15
O quadro em minha janela é triste neste sombrio amanhecer. As luzes da rua refletem no asfalto molhado enquanto a chuva se recompõe para voltar com força total. Choveu a noite toda e as cenas do noticiário na TV mostram cidades alagadas, casas destruídas e vidas perdidas. Muitos lugares se transformaram em um verdadeiro caos. Uma cidade que costumava receber milhares de turistas nesta época do ano está vazia por causa das chuvas. Ninguém quer ir lá.

Tampouco ninguém queria ir a Davi quando ele estava no sombrio exílio que precedeu seu reinado. Em 1 Crônicas 11 juntaram-se a ele apenas indivíduos igualmente rechaçados pela sociedade. Então no capítulo 12 já vemos grupos que decidem servi-lo. No capítulo 13 os demais vão a ele com o propósito de fazê-lo rei. Davi é uma figura de Jesus.
Quando Jesus esteve aqui, apenas pobres, aleijados e enfermos o buscavam, além de seus discípulos, homens rudes e simples. Depois de ser expulso deste mundo deixou aqui um único grupo chamado Igreja, que é o seu corpo. Após a partida da Igreja deste mundo o seu povo terreno, Israel, o reconhecerá como Rei, quando ele voltar para reinar.
Mas isto não é agora e nem é a Igreja — os crentes deste período atual — os seus súditos. Da Igreja o Senhor não é Rei, é cabeça. Aos seus nesta dispensação ele não chama de súditos, mas irmãos. Porém muitos cristãos hoje se deixaram levar por lobos que transformaram a cristandade numa horrível caricatura do cristianismo original, com seus templos luxuosos, organizações poderosas e influência política nos negócios deste mundo e de seu príncipe, que continua sendo Satanás. (João 14:30)
Jamais o Senhor quis que os seus tomassem este mundo de assalto para transformá-lo em um mundo cristão. Se quisesse, ele teria enviado suas hostes angélicas para livrar seu povo ou deixaria Pedro usar a espada para cortar mais orelhas no momento de sua prisão.
Tampouco ele planejou marchas para Jesus ou quis fazer deste país a maior nação evangélica do mundo, como querem alguns, tentando fincar bandeira em uma terra de peregrinação. Quem vai atrás dessas coisas não é um entendido “na ciência dos tempos” (1 Cr 12:32), como eram alguns dos que se juntaram a Davi.
Para o cristão, o momento atual é como um mundo alagado, transbordando de impiedade e maldade “por todas as suas ribanceiras”. Para Davi, aquele era a pior hora para cruzar o rio Jordão, a mais perigosa. Para o crente hoje, seguir a Jesus não é buscar uma vida fácil e livre de perigos. É se sujeitar a uma vida no exílio. Hoje ele está por nós no céu, e nós estamos por ele na terra.
Este não é um mundo favorável a Cristo e aos cristãos e nem espere que seja. A apostasia — abandono da verdade — continuará a passos largos. Mas todos os homens e mulheres descritos no episódio de 1 Crônicas 12 sabiam que era melhor ser exilado com um Davi rejeitado do que morar no conforto da corte de um Rei Saul.

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